Toda minha pressa

Toda minha pressa está em lhe prescrever vez por todas a preguiça.

A técnica, já lhe adianto como lhe passei a vida adiantando, é abandonar toda a técnica.

Pense que seja fácil não essa coisa de desmoldar o corpo, fazer o desmonte das prioridades, desaparelhar os esforços pessoais e desfocar o foco depois de ter vivido uma vida nas drogas da performance.

Ser campeão é fácil, quero ver sujeito ser largado sem objetivo.

O atleta coloca o corpo em sujeição e lima imperfeições cada uma ao ponto da máquina porque tem um objetivo, um, a vitória. Quem faz bem uma coisa é calçadeira.

Ser humano não tem função. Gente que cumpre o seu objetivo é aquela que objetivo não tem.

Cabra pronto pra tudo é o cabra bem treinado em coisa nenhuma, e esse preparo no despreparo não requer coach, requer sofazão.

Ser um descampeão na competição da vida é o que desejo a cada um, eu que preciso de companhia no ofício do meu relaxo. Comigo os desatletas, os descombatentes, deitados (nunca em pé) ao meu lado no último lugar cada um do seu despódio.

Cada um um mestre na sua modalidade de produzir só o que utilidade não tenha.

Cada um vida realizada, livre por completo de realizações.

E bolas na rede: na rede de dormir.

Porque é na rede de dormir que sujeito finalmente mostra o seu desvalor. Na rede ou se vai ou se relaxa, em que a rede é tesa e torta e sem canto bom: a rede só relaxa se você relaxa primeiro.

Te ensine a rede de dormir a desmobilizar o corpo, a dar carne à carne, a reconhecer e respeitar os recantos de alto a baixo em que a sua pele toca sem tratativa a sua pele. A esquecer que existe sem precisar necessariamente adormecer.

Descanse os cornos. Só não invente de meditar, que meditar requer meditação e você está nem aí pra isso. Ninguém está aqui pra – o que não seja ser sendo.

Pra nós nenhum relax, mais todo o relaxo do mundo – um relaxo que seja uma sorte de autoconhecimento pela exclusão de toda tentativa de autoconhecimento.

Seja o largar do corpo e da mente coisa por completo carnavalesca, lúdica, recreativa. Não digo erótica, porque erotismo tem objetivo e você na sua rede tem mais o que não fazer.

Esse frêmito imóvel que você está sentindo é a técnica se esvaindo de volta ao inferno de onde veio, é o corpo se esquecendo da repetição, são os dedos esquecendo o lugar das letras no teclado.

Essa euforia lenta no couro é o desdesafio: são os músculos se despreparando para excelência na arte sublime do inútil, é a mente se desmobilizando inteira até ser toda encantaria e imaginação.

Essa maravilha sem propósito, sem prazo de entrega e sem sombra de ressentimento, deixa eu te apresentar alguém aqui, é você.