«Riremos, riremos o mundo todo, ele dizia, e dizendo convocava e ria, riremos minha nossa, riremos nossa senhora! Na fresta que ninguém vigia vai nascer a muda miúda do encanto e no desabrocho daquela espiral virá encalacrada a joia do ritmo da cor do perfume da pele do sabor do beijo da risada do mundo. Riremos, dona Maria, riremos velho Lilau! Riremos gostoso, riremos ao peido, riremos à tosse, riremos sozinhos e riremos no cordão, riremos na cama, riremos no trono, riremos na transa, riremos beijando, riremos comendo e governando. O encantado da mata, o encantado do morro, o do mangue e do abaeté, o encantado da areia da praia no sapato e das simpatias das avós, tudo no peito rindo e vindo, arregaçando. Riremos alegria afora no final do filme triste, riremos deitados no caixão, riremos na cara da morte e nas costas da ressurreição. Riremos ao esquecimento, riremos à destruição, riremos ao berço e à lancheira. Vem rir, comigo, garoto? Vem rir com a gente, Juvenal? Vem pautar a alegria, senador?
Assimquê caiu na gargalhada mais larga e mais profunda, estendeu o braço manhã acima, fechou o punho e trouxe aquilo para junto de si, como quem arranca fumegando ainda o coração do dia.
Na mesma hora, por trás do homem, acima da multidão e com um ardor voluntário que recolheu o ar do nariz de Dominguaçu, ergueu-se e começou a varrer o cenário uma única e enorme bandeira vermelha.